segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

DIREITA VENCE NO CHILE E DEU EXEMPLO DE CIVILIDADE E DE DEMOCRACIA AO BRASIL


Numa campanha limpa, sem troca de acusações, com debates em que se discutiram propostas 
para o país, e nenhuma interferência do Poder Judiciário, o Chile deu um exemplo ao Brasil e 
toda a América Latina de como é possível travar uma disputa política com civilidade e 
respeito ao eleitorado.

Balaio do Kotscho


Assim que se confirmou a sua vitória na noite de domingo, o presidente eleito do Chile, Sebastián 
Piñera, fez questão de se dirigir em primeiro lugar ao seu adversário, Alejandro Guillier, que já tinha 
reconhecido a derrota :
“Li seu programa de governo, e há ali muitas boas ideias, que vamos incorporar. Onde houver 
diferenças vamos conversar. Vou propor a todas as forças políticas que nos ajudem a resolver nossos 
problemas. Viva a diferença e a convergência de ideias”.
Na mesma hora (22h em Brasília), Guillier, se mostrou pronto a colaborar:
“Com o espírito republicano que marca nosso país, vim cumprimentar o presidente Piñera e dizer 
que estamos prontos para colaborar”.
Espírito republicano?
Por aqui, certamente nossos políticos devem estar se perguntando do que se trata, nem sabem o que é 
isso.
Numa campanha limpa, sem troca de acusações, com debates em que se discutiram propostas para o 
país, e nenhuma interferência do Poder Judiciário, o Chile deu um exemplo ao Brasil e a toda a 
América Latina de como é possível travar uma disputa política com civilidade e respeito ao 
eleitorado.
Tudo bem diferente do que vimos nas última eleição presidencial no Brasil, em 2014. No dia 
seguinte à vitória de Dilma Rousseff, Aécio Neves foi à Justiça para impedir a sua posse.
Primeiro, pediu recontagem de votos e, em seguida, denunciou abuso de poder econômico da 
adversária na campanha eleitoral. E começou a guerra política que até hoje não terminou.
Nem sempre foi assim por aqui, mas a transição democrática e civilizada de FHC para Lula, em 
2002, da qual eu participei, parece coisa do passado.
Ao se despedir do presidente que saia, na porta do elevador no Palácio do Planalto, Lula deu um 
abraço em FHC e lhe disse:
“Fernando, pode ter certeza de que você deixa aqui um amigo no teu lugar”.
Os últimos presidentes eleitos que entregaram o cargo ao sucessor eleito eram adversários políticos, 
não inimigos.
Alguém pode imaginar uma cena dessas se repetindo em janeiro de 2019 quando assumir o sucessor 
de Michel Temer?
Com Lula ou sem Lula, ganhe quem ganhar, continuaremos um país dividido e dilacerado após as 
eleições de 2018.
Na ausência até agora de um candidato competitivo do establishment para defender as reformas de 
Temer, tenta-se eliminar a concorrência para evitar que Lula, o líder absoluto em todas as pequisas, 
possa ser candidato.
Nos últimos dias, analistas políticos andaram fazendo comparações entre a eleição chilena e a 
brasileira, mas não tem nada a ver, a não ser o fato de que mais uma vez a disputa se dará entre 
esquerda e direita. A grande diferença entre nós é cultural, está mais no eleitorado do que na lista de 
candidatos.
Depois da judicialização da política triturada pela Lava Jato, com o apoio do Supremo Tribunal 
Federal, eleição por aqui virou Fla-Flu, e não uma oportunidade de discutir os problemas e encontrar 
saídas para a crise brasileira. Como ninguém tem propostas, entramos no vale tudo.
O problema é que a direita brasileira não tem votos, depois de perder as últimas quatro eleições 
presidenciais, e viu a extrema direita crescer no embalo de Bolsonaro, o explosivo ex-capitão do 
Exército que agora se apresenta como liberal para cativar os mercados em busca de um candidato 
anti-Lula.
Como Doria e Huck deram chabu, ficaram só com os anódinos Geraldo Alckmin e Henrique 
Meirelles, ambos empacados nas pesquisas, que não conseguem empolgar nem seus próprios 
partidos.
É por isso que, a cada nova pesquisa, querem acelerar a condenação de Lula e torná-lo inelegível por 
conta de um triplex no Guarujá que eu não queria ter nem de graça.
Enquanto isso, em Santiago, na mesma hora em que escrevo, a presidente Michelle Bachelet, que 
apoiou Guillier, está na casa de Piñera para um café da manhã, na primeira reunião da transição 
chilena.
Democracia é simples assim. Quem tem mais votos, leva. Viva Chile!

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